
Acordei me sentindo minimamente melhor que ontem, já que agora, pelo menos, possuo um desfecho decente depois que conversamos. É como se eu estivesse vivendo um luto. Você se força a conviver com o fim, ainda que esteja inconformada por dentro. Se bem que não é propriamente um fim. Ele pediu um tempo para pensar o que fará da sua vida, a respeito do seu casamento – que está desmoronando – mas, sabemos que um tempo, pode tanto resultar em um reencontro – ainda mais ardente – no futuro, quanto em um afastamento definitivo.
A ausência dele tem sugado a minha energia constantemente. Fico sem vontade de fazer as minhas coisas rotineiras, pensando que agora não tenho mais com quem compartilhar os assuntos. Ele sempre se mostrava tão interessado nas coisas que eu fazia. Suas mensagens frequentes eram uma companhia que somente agora percebo o quanto me fazem falta. É inevitável não ficar entrando na nossa conversa, reler as últimas palavras e olhar quando foi a última vez que ele entrou. Coração sempre dispara quando ele também está online.
Estou há dois dias ouvindo as mesmas músicas. Quatro músicas que descobri nesse final de semana e que agora compõem uma playlist, criada por mim, chamada: “news”, mas que poderia ser intitulada como “fossa”. Vez ou outra me pego com os olhos marejados, isso quando não estou chorando descontroladamente, como se alguém tivesse me batido. Os áudios favoritados, os vídeos compartilhados, são tudo uma grande munição para o sofrimento. Ouvir a sua voz, ver a sua imagem se movimentando, causam uma tristeza tremenda. Fico querendo voltar para aquele momento, quando estava tudo bem e tínhamos um ao outro.
Se ele vai voltar com a esposa, isso ainda é um mistério. Apesar de eu temer que sim, que vai preferir regressar a sua vidinha cômoda e segura de sempre. Posso estar sendo um pouco egoísta, mas, não queria que ele voltasse. Ainda que fosse pelos filhos. O que aconteceu, a maneira como ela descobriu sobre nós (que foi mesmo muito besta), ao meu ver, foi um empurrãzinho do universo para que ele aproveitasse o momento e rompesse logo. Sempre reclamou. Não faz sentido tentar consertar algo que já estava ruim e que agora ficou pior. Traição num relacionamento deixa cicatrizes horríveis. Ela sempre lhe apontará o dedo. E não digo isso porque o quero para mim, mas é como as coisas são. Ainda que não fiquemos juntos.
Os filhos crescem e vão entender. Quantos casais se separam hoje em dia, independente dos filhos, e ainda assim os mesmos crescem sem traumas? Eu sou uma delas. Minha mãe se divorciou duas vezes no decorrer da minha infância, sendo o último quando eu tinha dez anos. Desde então não tive mais uma figura paterna e sou uma pessoa ótima (não me julguem por ficar com homem casado). Talvez com uma queda por homens mais velhos, mas, ainda assim, nenhum que poderia ser meu pai.
Quanto tempo será que ficarei sem notícias dele? Quanto tempo será que ficarei sem ele? Será que um dia voltaremos a nos ver? Eu sei que ele tem um forte carinho por mim, assim como eu tenho por ele. É o que me consola nesses momentos de solidão. Ele gosta de mim. Só não sei se o que ele sente será o suficiente para lhe impulsionar agora.
Apesar do meu sofrimento, reconheço que não devo estar sofrendo mais que a sua mulher. Ela é a vítima principal nisso tudo. Mas, o que posso dizer? Gosto demais dele, sei que o que ele fez não foi certo e não gostaria que um dia também fizesse comigo. Contudo, ele é humano, passível de erros. Sempre se referia a ela com muito respeito e quando nos conhecemos, não imaginávamos que rolaria toda a química, sintonia e afinidades que rolou, simplesmente aconteceu. Sua própria consciência já está o castigando agora e todos nós, sem exceção, saímos machucados desta situação.
Ela – a traída – apunhalada pelas costas.
Ele – o traidor – que não agiu com intenções de fazê-la sofrer.
E eu, conhecida como destruidora de lares, alguém que caiu de pára-quedas no meio disso tudo, que estava apenas vivendo um amor proibido, mas que foi levado embora, sem que eu pudesse fazer nada para impedir.